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quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Brasileiro teme que vacina preventiva de Aids incentive comportamento de risco

E se as pessoas passassem a abandonar o uso de preservativos quando uma vacina de prevenção à Aids entrasse no mercado?
Esse foi o primeiro sentimento do professor Dirceu Greco, uma das maiores autoridades brasileiras em pesquisas de Aids, quando soube do estudo americano-tailandês que resultou em uma vacina com 26% de eficácia na redução das chances de contrair o vírus HIV, causador da doença.
“A vacina trouxe um alento e é, sem dúvida, um ótimo sinal de avanço. Mas fiquei muito preocupado com a consequência que isso pode provocar nas pessoas. Quem toma uma vacina se sente protegido de tudo, mesmo que a eficiência seja baixa”, disse Greco, em Paris para participar do Congresso Aids Vaccines 2009. “Para os países com pouco acesso à informação, corre-se o risco de se perder o controle e cada um fazer o que quer, sendo que os preservativos não preservam apenas do risco de contrair Aids, mas de um monte de outras doenças tão perigosas quanto ela.
”Ainda que se estivesse à beira de uma vacina preventiva (infelizmente, não é o caso), o caminho imediato deve ser reforçar as campanhas de conscientização desde agora, na opinião do professor da Universidade Federal de Minas Gerais.Como a maioria dos pesquisadores reunidos em Paris, Greco também considera que a humanidade ainda está longe da cura da Aids. Mas de uma coisa, o professor tem certeza: “Invenção nenhuma vai ser possível sem a colaboração dos países mais pobres. Os ricos têm todos os meios e recursos para desenvolver as pesquisas, mas não conseguem realizar os testes em voluntários humanos se não contarem com a colaboração de países em desenvolvimento.
”Promessa não cumprida - Já o professor Edecio Cunha-Neto, da USP, espera que os bons resultados das pesquisas brasileiras estimulem a liberação de mais recursos para que o país possa se inserir com mais intensidade no cenário internacional da pesquisa sobre um imunizante contra o vírus da Aids. “Há três anos, o Ministério da Saúde tinha prometido liberar R$ 25 milhões para as pesquisas em Aids – o que é um valor baixo, considerando os montantes praticados nos grandes centros mundiais. Mas o fato é que até hoje a gente ainda não viu esse dinheiro”, lamenta.
Cinco cientistas do grupo de pesquisas de Cunha-Neto foram a Paris para apresentar posters sobre a vacina HIVBr18 . O imunizante é o único que mira “regiões conservadas” do vírus, as que não passam por mutações.
Outro pesquisador brasileiro que exibiu um trabalho no congresso foi Guilherme Silveira, da Faculdade de Medicina da USP, coordenado pelo professor Alberto José da Silva Duarte. A equipe de Duarte está tentando chegar a um único produto que substitua os atuais coquetéis anti-Aids, combinação de pílulas que as vítimas da doença têm de ingerir diariamente.
“Se tudo der certo, vamos fazer os primeiros testes em humanos já no início do próximo ano”, diz Silveira. “O problema é que, no Brasil, as coisas são muito burocráticas. Enquanto nos Estados Unidos as encomendas de elementos necessários para a continuidade das pesquisas chegam no mesmo dia ou no dia seguinte, no Brasil você pode contar com um mês de espera. É lamentável, porque temos excelentes ideias e profissionais, mas ainda falta aquele estalo.
”O congresso se encerra nesta quinta-feira (22) e trouxe a Paris mais de mil pesquisadores de Aids, incluindo os mais renomados do mundo, a grande maioria americanos. Os brasileiros não tinham apresentações orais programadas, mas foram numerosos a exibir posters científicos mostrando as últimas novidades dos estudos realizados no país.
(Fonte: Lúcia Jardim/ G1)

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