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quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Bitucas causam dano ambiental

Tocos de cigarro jogados nas ruas e nas praias criam sedimento tóxico e podem poluir tanto quanto o esgoto comum, de acordo com estudo paulista.

As leis antifumo, criadas para proteger a população dos componentes tóxicos da fumaça do cigarro, podem trazer um efeito colateral indesejável: aumentar a chamada “poluição difusa” – aquela que está nas superfícies e é carregada pela chuva para os cursos d’água. Com a proibição do fumo em ambientes fechados, os fumantes acendem e aspiram a fumaça de seus cigarros em áreas ao ar livre. Depois, muitos deles arremessam as bitucas no chão.

Um estudo coordenado pelo biólogo Aristides Almeida Rocha, professor aposentado da Fa­­culdade de Saúde Pública (FSP) da Universidade de São Paulo (USP), e pelo advogado e jornalista Mário Albanese, presidente da Associa­ção de Defesa da Saúde dos Fu­­mantes, mostra que duas guimbas de cigarro geram a mesma quantidade de poluição produzida por um litro de esgoto (leia mais nesta página). Segundo Albanese, os tocos deixam a água turva e criam um sedimento tóxico.

Pesquisa mostrou como as guimbas poluem

Na experiência conduzida pelos professores Aristides Almeida Rocha e Mário Albanese nos laboratórios da Faculdade de Saúde Pública (FSP) da USP, 20 pontas de cigarro foram colocadas em um recipiente com 10 litros de água e submetidas a um processo de agitação. A mistura permaneceu em infusão por oito dias. Do líquido resultante, que apresentava coloração amarelo-escura e forte odor de nicotina, foram retiradas amostras de 100 mililitros para análise da de­­manda bioquímica de oxigênio (DBO), indicador que mede a poluição causada por matéria orgânica biodegradável.

No processo de decomposição, micro-organismos como bactérias, protozoários e fungos alimentam-se do material orgânico poluente e consomem o oxigênio dissolvido no meio aquático. Quanto maior for a demanda por oxigênio, mais prejudicada será a sobrevivência dos peixes e de outros organismos aquáticos.

O esgoto doméstico, em geral, rouba o oxigênio da água em taxas que variam de 300 a 600 mg/l. Na experiência com as 20 guimbas dissolvidas em 10 litros de água, a DBO atingiu 317 mg/l. “Considerando-se que o peso médio de uma bituca é de 0,5 grama e provoca uma DBO de 0,75 mg/l, torna-se possível concluir que 2 bitucas ou 1 grama promove uma demanda de oxigênio de 1,5 mg/l”, diz Alba­nese. “Esse valor corresponde à poluição causada por um litro de esgoto doméstico”, conclui. Já o filtro, que faz parte do toco do cigarro, resiste à biodegradação, permancendo no solo e na água por 5 a 7 anos, sem se de­­compor. (AS)

Praias

Nas praias, as bitucas de cigarros têm sido um dos principais componentes do lixo recolhido por mutirões de limpeza. Em outubro, um trabalho promovido pela ONG Instituto Conservação Marinha do Brasil (Comar) na Prainha e na Praia Grande, em São Francisco do Sul (SC), resultou na coleta de 237 kg de lixo. Desse total, 1 kg era constituído de 2 mil guimbas. Parece pouco, mas essas pontas roubam da água uma quantidade de oxigênio equivalente à retirada por mil litros de esgoto.

O Instituto Am­­biental do Paraná (IAP) vem distribuindo nos últimos anos, a cada temporada de verão, cerca de 5 mil minilixeiras para os fumantes jogarem seus tocos de cigarro. Chamadas de “bituqueiras”, as minilixeiras são colocadas nos postos de controle da balneabilidade das praias. De acordo com o IAP, a ação produziu bons resultados, reduzindo em 70% a quantidade de pontas de cigarro atiradas na areia.

Estimativas da Secretaria de Estado do Meio Ambiente (Sema) indicam que os fumantes constumam deixar cerca de cinco bitucas por metro quadrado de areia. “A limpeza pelo processo de varrição não consegue retirar todo esse lixo, por isso temos de distribuir as bituqueiras”, afirma o secretário, Rasca Rodrigues. “Não se trata de facilitar a vida dos fumantes, mas de evitar os danos ambientais causados pelas pontas de cigarros. Muitos animais marinhos morrem em decorrência das bitucas jogadas na praia”, explica.

Segundo Rasca, a Sema não tem planos de promover ações desse tipo nas cidades, mas espera contar com a colaboração de bares e restaurantes, já que as guimbas jogadas na rua e levadas até os rios pelas galerias de águas pluviais acabam também chegando ao oceano.

Fonte: portal.rpc.com.br

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