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terça-feira, 4 de maio de 2010

ENERGIA NA GAVETA

A confirmação, feita por relatório da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), de que nada menos de 182 usinas estão esquecidas no fundo de gavetas, sem previsão de retomada, é preocupante para um país que precisa gerar energia suficiente para assegurar uma retomada consistente da atividade econômica. Juntos, os projetos suspensos somam 10 mil megawatts (MW) de capacidade instalada, próxima da prevista para a polêmica Belo Monte, de 11.233 MW. Por isso, independentemente da ênfase a grandes projetos, como o previsto para o Pará, o país precisa dar continuidade às obras de menor porte, lutando contra entraves que vão dos jurídicos aos econômicos, concentrando-se particularmente nos de ordem ambiental. As vantagens são consideráveis, e não se resumem aos valores financeiros.

No total, as usinas paralisadas teriam um custo estimado de R$ 26 bilhões. Se todas elas entrassem em operação, teriam condições de gerar o equivalente a um quarto da potência dos novos projetos de geração no país, sem Belo Monte, cujo custo as empreiteiras estimam em R$ 30 bilhões. Entre os benefícios dos projetos de menor porte, estão o de não se concentrarem num único local, tendendo assim a provocar menos impacto ambiental, e o de não se basearem numa única fonte de geração, contribuindo para a diversificação nesta área. O problema é que, entre os planos descontinuados, estão alguns integrantes do Programa de Aceleração do Crescimento desde a primeira versão, de 2007 – caso de Tijuco Alto, Cachoeirinha e Pai Querê –, mas não conseguem sair do papel. Em muitos casos, os problemas começam e param na dificuldade de obtenção de licença ambiental, o que recomenda mais preparo por parte da burocracia oficial. O esforço precisa envolver o próprio Palácio do Planalto, e não apenas o Ministério de Minas e Energia.

Uma das consequências do fato de o país ter tantas iniciativas descontinuadas nesta área é a elevação dos custos das usinas, fazendo com que se transformem num sumidouro de dinheiro público. Em alguns, como o da Hidrelétrica Olho D’Água, no Rio Corrente (GO), por exemplo, a descoberta de um corredor de mata primária remanescente no local onde seria feita a obra foi suficiente para elevar o preço de R$ 160 milhões para R$ 240 milhões. Casos assim fazem com que, mesmo depois da liberação de grandes quantidades de recursos, o projeto praticamente caia no esquecimento. E são situações desse tipo que o poder público deve empreender um esforço para evitar cada vez mais, daqui para frente.

É inadmissível que um país carente de energia farta e barata possa desdenhar pequenos projetos de geração, apesar da vantagem sob o ponto de vista de custos e danos, como os de ordem ambiental. O Brasil, com um potencial tão vasto de fontes para a geração, precisa apostar cada vez mais no aumento da eficiência energética, procurando assegurar oferta abundante e a preços razoáveis.

http://zerohora.clicrbs.com.br

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