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quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Contradições sobre a proteção climática no Brasil

O Brasil desempenha um papel fundamental na proteção climática do planeta. O desmatamento florestal responde por metade de todas as emissões de gases causadores do efeito estufa no país, que é o quinto maior emissor de CO2 do mundo.

Segundo dados oficiais, o governo brasileiro quer reduzir o desmatamento na floresta amazônica em 80% até 2020. Em um encontro com o secretário-geral da ONU, Ban Ki Moon, depois do fracasso da Conferência do Clima (COP 15) em Copenhague, o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva teria dito que a ONU é a principal responsável na proteção sustentável do clima, e que Ban deveria apoiar um acordo global de proteção climática.

A posição de Lula em relação ao meio ambiente e à proteção da floresta tropical no Brasil foi posta em cheque quando, em fevereiro de 2010, o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais (Ibama) aprovou a licença prévia da Usina Hidrelétrica de Belo Monte no meio da Amazônia. Com uma capacidade instalada de 11 mil megawatts, Belo Monte deve se tornar a terceira maior hidrelétrica do mundo, atrás apenas da de Três Gargantas, na China, e de Itaipu.

Moradores locais e ambientalistas são contra a barragem. O Tribunal de Justiça do Pará também se posicionou contra o projeto. O início das obras que estava marcado para 2010, foi adiado para abril de 2011, segundo a Eletronorte. Para isso, 20 mil moradores locais devem ser deslocadas e 516 quilômetros quadrados de floresta serão inundados.

“Ar condicionado” do mundo ameaçado – Apesar do discurso governamental em prol da floresta, árvores continuam sendo cortadas para dar lugar à agricultura e à pecuária. A pauta de exportações brasileiras inclui carne bovina para os hambúrgueres dos restaurantes de lanches rápidos em todo o mundo, inclusive da Alemanha, que é o quinto maior importador de carne bovina industrializada do Brasil, segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior do Brasil.

Em nome dos interesses econômicos, o Brasil tem sacrificado por ano cerca de 26 mil quilômetros quadrados de florestas, segundo dados da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação.

A devastação da maior floresta tropical do mundo causa um dano adicional. A sempre úmida selva amazônica capta energia solar e a transforma em imensas quantidades de vapor. As nuvens permanentes são responsáveis pelo ciclo da água que refresca o planeta. As queimadas das florestas causam o efeito contrário: grandes quantidades de gás carbônico são liberadas na atmosfera, provocando o efeito estufa.

Balanço nebuloso e um sopro de esperança – A legislação ambiental adotada no Brasil mal consegue controlar a destruição das florestas, segundo observou a Sociedade Alemã de Cooperação Técnica (GTZ, do alemão). Na Amazônia, já foram destruídos 680 mil quilômetros quadrados de floresta tropical, 17% da cobertura original. Da Mata Atlântica, ao longo da costa, restam apenas 7% da cobertura original.

Uma esperança está no Projeto Áreas Protegidas da Amazônia (Arpa), desenvolvido em parceria entre o Ministério do Meio Ambiente, o Ibama, governos estaduais e municipais da Amazônia, o Fundo para o Meio Ambiente Global, o Banco Mundial, o banco de cooperação do governo da Alemanha (KfW), a GTZ, o WWF-Brasil, o Fundo Brasileiro para a Biodiversidade (Funbio), e organizações da sociedade civil.

Elaborado em 1998, pelo então governo do presidente Fernando Henrique Cardoso, o projeto estabeleceu um compromisso internacional para colocar 12% da floresta tropical sob proteção rigorosa até 2012. No meio do caminho o prazo foi estendido para 2016. Até lá, 600 mil quilômetros quadrados de floresta precisam ser declarados como área protegida.

Os primeiros marcos foram alcançados. Até agora, cerca de 390 mil quilômetros quadrados de solo amazônico foram declarados como áreas de proteção federal. Mas, dessa parcela, segundo a GTZ, apenas a metade – ou seja, 4% da Amazônia – são realmente protegidos de forma rigorosa. Muito pouco, diz a GTZ.

Críticos dizem que o baixo índice de desmatamento atingido em 2009 se deve à crise financeira mundial. “A demanda de carne bovina, soja e madeira diminuiu drasticamente”, explica o ambientalista Paulo Adário, do Greenpeace.

Por isso, segundo ele, o freio no desmatamento tem pouco a ver com intenções ambientalistas. Para ele, as florestas voltarão a estar ameaçadas assim que os mercados mundiais voltarem a se interessar pelos principais produtos brasileiros de exportação.

(Fonte: Folha.com)

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