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sábado, 12 de fevereiro de 2011

Estudos indicam que alterações ambientais irão estimular migrações

Duas pesquisas feitas recentemente, uma pelo Banco de Desenvolvimento da Ásia (ADB, em inglês) e a outra pelo Instituto Internacional de Meio Ambiente e Desenvolvimento (IIED) apontam que mudanças no meio ambiente podem aumentar e acelerar fluxos migratórios, em especial em regiões mais vulneráveis a mudanças climáticas.
O relatório do ADB realça os riscos de enfrentar alterações ambientais nos pontos mais vulneráveis, o que cria um fluxo migratório para centros urbanos, como as grandes cidades das costas asiáticas. Estes pontos enfrentam grande pressão, à medida que as populações rurais se mudam para as cidades, por causa das enchentes e tempestades tropicais.

Já o estudo do IIED, realizado em regiões da Bolívia, Senegal e Tanzânia, afirma que estes fluxos são temporários e de curta distância. “As pessoas afetadas pela degradação ambiental raramente mudam de país”, diz a doutora Cecilia Tacoli, autora da pesquisa. “Elas costumam se mudar para outras áreas rurais ou para cidades próximas, e muitas vezes temporariamente”.

“Esses migrantes podem reduzir sua vulnerabilidade diversificando suas fontes de renda e reduzindo sua dependência dos recursos naturais, mas os governos ainda vêm esses migrantes como um problema e pouco auxiliam ou mesmo desencorajam a população a mudar”, destaca.

A pesquisadora sugere ainda que quando há mudanças internacionais, os migrantes costumam investir nos seus países de origem, o que acaba estimulando um movimento interno. Isso porque os investimentos se concentram em áreas com potencial econômico para crescer, como em empreendimentos imobiliários e empresas de pequenos e médios centros urbanos, onde os terrenos são mais baratos.

Além disso, quando estes migrantes mandam dinheiro para seus países e origem, esta renda pode ser utilizada para pagar trabalhadores de fazendas familiares. Ambos os setores podem reduzir a vulnerabilidade das pessoas frente às transformações climáticas.

“Tanto as migrações regionais como as internacionais podem auxiliar as pessoas pobres [mais atingidas pelas alterações ambientais] de áreas climáticas vulneráveis”, salienta Tacoli. “A migração é parte da solução, não parte do problema, como muitas pessoas pensam”.

O relatório da ADB também ressalta o lado positivo das migrações. Segundo o documento, se administrados apropriadamente, os fluxos induzidos pelas transformações climáticas poderiam facilitar a adaptação humana, criando novas oportunidades para as populações deslocadas em ambientes menos vulneráveis.

De acordo com os dados do ADB, os governos precisam se preparar para o crescimento dos fluxos migratórios, mas até agora “nenhum mecanismo de cooperação internacional foi instituído para conduzir esses fluxos, e esquemas de proteção e assistência continuam inadequados, mal coordenados e dispersos”. O documento sugere que “os governos nacionais e a comunidade internacional devem se dedicar a este assunto de um modo proativo”.

A ADB pretende lançar seu relatório em março, como parte de um projeto que visa advertir e prontificar as regiões sobre as migrações impulsionadas pelas mudanças nos padrões climáticos.

Já as informações do IIED indicam que devido ao preconceito de alguns governos contra a migração, evita-se a adoção de políticas nessa área. “Estas políticas precisam redefinir a migração e vê-la como uma resposta adaptativa para os riscos ambientais e não como um problema que precisa ser resolvido”, diz Tacoli. “Nós precisamos de respostas racionais e realistas para as mudanças climáticas, não de reações instintivas que criem novos problemas e aumentem a vulnerabilidade”, afirma.

Segundo ela, estas políticas devem: assegurar o sustento das áreas onde estes migrantes vivem; auxiliar os migrantes a chegarem ao lugar de destino, garantindo que tenham representação e seus direitos respeitados; evitar ciclos viciosos, de forma que a migração não seja conseqüência das mudanças climáticas em si, mas de políticas dedicadas a tratar dessa área.

Autor: Jéssica Lipinski - Fonte: Instituto CarbonoBrasil/China Daily/ADB/IIED

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