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sexta-feira, 18 de março de 2011

Uma Semana - Terremoto de Touhoku

NÃO HÁ, ATÉ O PRESENTE MOMENTO, REGISTRO DE BRASILEIROS MORTOS OU GRAVEMENTE FERIDOS NO PAÍS.
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14h46. Um minuto de silêncio em todo o país.
Há uma semana atrás o Japão entrava em seu pior momento neste século.

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O amigo Antônio, jornalista e que há muito tempo faz um bonito trabalho social em Nagoya publicou alguns avisos importantes em seu twitter, vou divulgar aqui:

PEDIDO: vamos retuitar notícias vindas de fonte segura. Não espalhemos boatos ou o que alguém comentou. Nessa hora a precisão é uma prece.

PEDIDO 2: Por favor, não deem dinheiro na mão de ninguém. Depositem em conta de banco de organizações confiáveis. Muito cuidado nessa hora.

PEDIDO3: A situação é difícil, mas não nos entreguemos ao desespero nem ao imediatismo. Busque informação e ajuda se precisar. Tamos juntos

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FAQ (Respondendo):

* Só sei o que devo fazer na minha vida:
Entendo tanto a posição de quem fica como a de quem quer ir/está indo embora.
É uma situação tensa, limite (quarto maior terremoto do mundo, G-Zuis, não é chuva de verão!).
Cada um faça o que julgar certo, de acordo com suas possibilidades e consciência.
Da minha vida sei eu, da vida do outro sabe ele e c'est fini.

* Radiação não é transmissível ou contagiosa!
O césio, plutônio - elementos químicos e não biológicos, não se reproduzem e não são passados por um espirro ou contato. (Desculpe escrever isto aqui, mas sim, me perguntaram isto algumas vezes - tenho testemunhas, inclusive).
Nem será preciso mandar os seus parentes recém-chegados ao Brasil para salas de descontaminação.

* Cada abrigo na região afetada faz suas regras de acordo com o que tem disponível e o número de pessoas.
Não sei de onde saem absurdos do tipo: homens comem dois bolinhos de arroz e mulheres apenas um.
A distribuição é igual, conforme relatos das reportagens locais, dos próprios abrigados.
Apenas velhinhos e crianças tem preferência caso haja excedente, ou então os que estão em trabalho voluntário considerado mais penoso.
Com licença, o período medieval no Japão já acabou faz um certo tempo.

* E ninguém tome iodo por conta, o iodo à venda nas farmácias japonesas é para gargarejo e não para ser ingerido.
Nem aumentem o consumo de sal, como já acontece na China. Em vez de radiação, vão morrer de pressão alta!

* Japoneses e estrangeiros tem ajudado e muito!
Não tem "mais ou menos bonzinho" nesta hora, tem é gente que ajuda.
Todo mundo faz o que pode, da maneira que entende o que seja ajudar (no nosso caso, os brasileiros que aqui vivem e não entidades oficiais, que isso fique bem claro).
Gente é gente, ué. Tem coração, alma, generosidade, bondade.
Até crianças tem contribuído, de alguma forma (visitam velhinhos para acalmá-los, ajudam nos afazeres de cada abrigo, etc).

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Por estas ruas....

A única coisa que notei aqui de diferente (região que praticamente não foi afetada pelo terremoto Touhoku) é ver algumas pessoas com a expressão muito triste ou até mesmo chorando pelas ruas.
Alguns cartazes com mensagens de incentivo no comércio... pontos de recolhimento de donativos que aumentaram muito. Onde moro não há racionamento de luz ou de qualquer coisa, mas voluntariamente as pessoas tem economizado energia elétrica.
Muitos pontos turísticos e o comércio estão com parte das luzes apagadas.

Na tv, informes são divulgados o tempo todo mas não mais em transmissão 24 horas (a não ser na rede estatal NHK e os canais de notícia). O canal educativo da NHK tem privilegiado a programação infantil.

No rádio (fonte importante de informação, já que facilmente são encontrados, funcionam com pilhas ou até manivela) muitas estações transmitem historinhas infantis para acalmar a criançada. E músicas tradicionais bem alegres e otimistas, em estilo enka,que trazem ânimo principalmente aos mais velhos.

Vi que muitos rezam, segurando as notícias de jornais nas mãos, pelos templos da cidade.
Ora-se muito também pelos cidadãos que tentam apagar o incêndio na usina Fukushima Dai Ichi. Conscientes dos graves riscos que correm, estão lá para proteger a vida de milhões.

Em uma pequena praça, perto da estação de trem, vi algumas pessoas de idade cantando gunka, as velhas canções do tempo da segunda guerra... pois vive-se uma nova guerra, o inimigo desta vez é o terremoto Touhoku.

Um novo cumprimento surgiu no Japão: além do bom dia, ouve-se muito "Touhoku Jishin ni Makenaide!" (Não se deixe derrotar pelo Touhoku Jishin!)

Físico diz que há muito catastrofismo na questão nuclear no Japão

O noticiário se renova a cada instante, mas o professor Carlos Roberto Appoloni, coordenador do Laboratório de Física Nuclear Aplicada da da Universidade Estadual de Londrina (UEL), já pode dizer o seguinte: que as consequências do acidente radiativo registrado na usina de energia nuclear de Fukushima, no Japão, causado por uma série de acontecimentos originados pelo grande terremoto seguido de tsumani, no último dia 11, serão (na verdade, já são) muito menores que as registradas no acidente de Chernobyl, na Ucrânia, em 1986.

As peculiaridades dos dois casos são muito diferentes, conforme ele diz na entrevista à Agência UEL, na qual dá uma série de esclarecimentos sobre as condições em vigor hoje para o funcionamento das usinas nucleares em todo o mundo, e sobre o controle feito por organismos internacionais para assegurar que essas condições sejam seguidas.

Appoloni dá explicações sobre questões técnicas, as quais, na sua opinião, não têm recebido o necessário relevo no noticiário da imprensa. "O que se encontra no noticiário é um grande catastrofismo", afirma. Ressalta, porém, que não pode dizer, por enquanto, como terminará a crise em andamento no Japão, dada "a complexidade da situação" no interior da usina de Fukushima e a falta de dados precisos, "que nem o governo japonês tem ainda".

O professor aproveita para se posicionar em relação ao debate sobre a real necessidade das usinas atômicas para a produção de energia elétrica. Veja a íntegra da entrevista, que foi dada no início da tarde do dia 16, quarta-feira:

Qual é a sua análise do problema registrado na usina nuclear de Fukushima, no Japão?

Appoloni – Estou vendo um catastrofismo exacerbado no noticiário de algo que é um evento triste, um evento sério, mas não é para fazer o mundo parar por causa disso. Primeiro que o mundo não para. Segundo, o mundo é movido a energia elétrica. As pessoas que exigem que seus governos parem programas nucleares são as mesmas que chegam em casa e vão usar o microondas para fazer comida, vão usar energia elétrica para aquecer a casa e assim por diante. E não vão admitir não ter essa energia para usar no seu dia a dia. Principalmente se for no inverno e se for num país do Primeiro Mundo, onde aconteceu esse evento.

Consta que 30% da energia elétrica do mundo é produzida por reatores atômicos.

Exatamente. Mas isso é o total. Existem países, como a França, em que mais de 70% da energia elétrica vem de reatores nucleares. Na Bélgica, mais de 50%. No Japão o percentual também é alto (30%). É só ver no site da Agência Internacional de Energia Nuclear (www.iaea.org). E mesmo o Brasil está com a sua malha de produção de energia elétrica saturada. Dizer, no Brasil, "vamos construir mais hidrelétricas", é não ter olhado dados como o do real potencial hidrelétrico que existe para explorar, é não medir a razão custo-benefício de inundar terras férteis para fazer isso e outros tantos problemas. Além do fato de que a malha energética não pode ser monolítica, não pode ter só uma fonte, porque, num período de estiagem, teríamos problemas sérios.

Especialistas dizem que as usinas nucleares, primeiro por causa do acidente de Three Miles Island (1979) e depois por causa de Chernobyl (1986), se tornaram caríssimas para aumentar a segurança.

Bom, nunca foram baratas. Sempre foram caríssimas. Mas a cada acidente – e vai ser de novo agora, depois que a análise técnico-científica e não emocional-ambiental passar – novos parâmetros de segurança vão ser determinados para todas as centrais do mundo. Ninguém precisa pedir para governo nenhum, ninguém precisa fazer passeata para isso acontecer. É norma. A cada acidente conhecido ou não conhecido da comunidade – pois acontecem acidentes que a comunidade não fica sabendo, porque não têm esse impacto de mídia – são tomadas providências...

...como se costuma ver na aviação civil, quando ocorre um acidente com muitas vítimas?

Como ocorre na aviação civil, mas ainda com mais rigor. Na indústria nuclear, de fato, isso é supervisionado. Não existe nenhum órgão mundial que fiscaliza a aviação civil ou as indústrias petroquímicas, mas na área nuclear existe. Depois desse acidente, será gerado um protocolo e que será obrigatoriamente incorporado por todas as usinas do mundo. E assim acontece em todos os acidentes.

Voltando ao acidente atual, existe, no noticiário, o medo de uma repetição de Chernobyl, onde houve milhares de vítimas e um grave vazamento de radiação nuclear que se espalhou pela atmosfera.

É o catastrofismo. É claro que estamos diante de um acidente grave, mas ele é decorrente de um terremoto de escala 9. Comparar isso com Chernobyl é burrice. O acidente de Chernobyl foi provocado por falha humana num reator antiqüíssimo que, 10 anos antes, a comunidade internacional e a Agência Internacional de Energia Atômica já avisavam que tinham que ter sido desligados, porque a regriferação deles era a carbono. Mas como estávamos ainda em plena época da ditadura comunista na União Soviética, os organismos internacionais não foram ouvidos lá. Precisou acontecer o acidente.

Aquele fato serviu para melhorar a regulamentação internacional?

Parece uma contradição, mas a resposta é não. Porque não se usava mais aquele reator, entende? O acidente de Three Miles Island foi muito mais importante, embora muito menos dramático. Na usina de Three Miles Island ocorreu realmente uma falha de refrigeração, que gerou uma bolha de hidrogênio no interior do prédio de contenção, e ocorreu uma explosão química como essa registrada agora em Fukushima. A razão da falha é que foi diferente. Em Three Miles Island, a falha estava ligada a equipamentos internos da usina, e também houve uma falha de operação. Já agora, no caso do Japão, o que temos é um fato absolutamente inédito, de um terremoto de magnitude 9.

Mas já não se sabe há tanto tempo que o Japão é um território sujeito a terremotos? E não se podia prever que um terremoto causasse esse tipo de conseqüência numa usina nuclear por lá?

Isso tudo é verdade. Mas nem lá se esperam terremotos de magnitude 9. Até onde eu sei, aquelas usinas foram construídas para aguentar um terremoto de magnitude 8, que já é muito alta. Mas a diferença para 9 é muito grande, porque a escala é logarítmica. Nove não é 1 mais 8. Nove significa de 10 vezes mais que 8. São ordens de grandeza muito diferentes. A imprensa tem descontextualizado as razões do acidente. Eu lhe pergunto: o que aconteceria em qualquer lugar do mundo, se ocorresse um terremoto com essa intensidade na região de uma usina hidrelétrica? Quantas mortes imediatas aconteceriam? Seriam milhares, e não apenas quatro ou cinco como ocorreu no acidente do reator de Fukushima.

Não para justificar a atuação da imprensa, mas, em Chernobyl, a radiatividade se espalhou pelo mundo, até aviões foram examinados ao chegar ao Brasil. Não é esse o mote que mobiliza a mídia ao produzir o noticiário de hoje?

Esse é o mote, mas não se justifica que a mídia não dê as informações corretas, as fontes estão aí. Vejo que a Folha de S. Paulo está desde o primeiro dia publicando páginas e páginas sobre a situação no Japão, mas só hoje (quarta-feira), cinco dias depois, se dignou a escrever, sem destaque, que as explosões que eles estão noticiando não são nucleares, mas sim químicas. Uma semana depois que a população está lendo aquelas coisas alarmistas e recebendo informações erradas. Está todo mundo achando que houve explosão nuclear, mas houve explosões químicas. Também só hoje, com certeza devido à reclamação de leitores bem informados, explicaram, num canto, a diferença entre Chernobyl e Fukushima. A usina de Chernobyl não tinha o prédio de contenção interno. Quando o reator fundiu e houve a explosão química, explodiu logo o único prédio que havia por cima do reator, e a radiatividade foi toda para a atmosfera. O reator de Fukushima tem a contenção interna, que não explodiu. O que explodiu foi o topo do prédio. A contenção interna continua cumprindo o seu papel. A imprensa compara a situação atual à de Three Miles Island e Chernobil, mas são eventos completamente diferentes.

O que é que está, precisamente, acontecendo na usina de Fukushima?

Um reator nuclear nunca explode. O que acontece são explosões químicas no ambiente do reator. Se a explosão química acontece fora do vaso de contenção, como ocorreu agora, devido ao terremoto, no caso do Japão, essa explosão química envolveu os circuitos de refrigeração e o material radiativo que está nos circuitos de refrigeração, não o reator diretamente. A explosão química é que arrebentou o teto do prédio, mas ela aconteceu fora do prédio de contenção. Note que existe, primeiro, o vaso de contenção, e, depois dele, o prédio de contenção. A explosão aconteceu fora do prédio de contenção. O reator está dentro do vaso de contenção, que é de aço e cujas paredes têm de 20 a 30 cm de espessura. Como ocorreu um vazamento do prédio de contenção para o prédio externo, ocorreu a explosão do topo e vazou uma parte do material radiativo secundário. Repare que esses dados todos só foram publicados hoje num jornal de expressão nacional como a Folha de S. Paulo, e mesmo assim num local discreto.

A sua resposta à primeira pergunta deu a impressão de se tratar de um antiecologista. O sr. acha que, sem usinas nucleares, o mundo não é capaz de produzir suficiente energia elétrica?

Não sou antiecologista de forma nenhuma. Acho que todo país deve evitar usar a alternativa nuclear para a produção de energia elétrica até onde puder. Mas o Brasil já não pode mais. Há 20 anos, a minha resposta a essa pergunta teria sido: vamos fazer reatores apenas para pesquisa, para produzir radiofármacos e para desenvolver a capacitação nacional na área. Só que hoje o Brasil já não pode prescindir da energia atômica. Não haverá usinas hidrelétricas suficientes – é só pegar os dados frios, sem emoção – para atender a demanda energética do país. Já estamos com problemas sérios de produção de energia pelas usinas hidrelétricas no ciclo de estiagem. As usinas nucleares de Angra 1 e Angra 2, apesar de serem responsáveis por apenas 3% da produção nacional de energia elétrica, têm cumprido o papel de ajudar. No Rio de Janeiro, elas representam até 40% da energia elétrica usada no Estado. E eu já falei dos índices de outros países. A Alemanha agora se opõe às usinas nucleares, mas compra energia elétrica da França. A Alemanha desativou usinas, mas financiou usinas na França. E hipocritamente diz que não tem usinas nucleares. Assim é fácil ser "verde".

Diário de
Alexandre Mauj Imamura Gonzalez
vivenciando tudo no Japão.

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