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terça-feira, 24 de maio de 2011

Cidades brasileiras começam a abolir uso de sacolas plásticas

Seguindo uma tendência mundial, algumas cidades brasileiras começaram recentemente a suspender as sacolas plásticas e a defender a utilização de ecobags. Apesar de alegar combater os malefícios ambientais do plástico – que pode demorar mais de 100 anos para se decompor, a medida ainda é controversa, e há inclusive quem defenda que outras opções de bolsas podem ser ainda mais prejudiciais ao meio ambiente.

Na Europa, o Poder Executivo quer cobrar pelos sacos plásticos, ou mesmo bani-los. Muitos países do bloco já os proibiram ou firmaram acordos para aboli-los aos poucos, e a maioria dos supermercados agora cobra pelo emprego do item.

“Cinquenta anos atrás, o uso descartável das sacolas plásticas era raro. Agora as usamos por poucos minutos e elas poluem nosso ambiente por décadas”, disse Janez Potocnik, comissária da EU para o meio ambiente.

Por aqui, a lei que restringe a utilização de bolsas plásticas começou a valer no Rio de Janeiro em julho de 2010. Em Belo Horizonte, a medida para proibi-las foi adotada em abril, e em São Paulo, aprovada nesta semana pela Câmara Municipal e sancionada pelo prefeito Gilberto Kassab, embora só entre efetivamente em vigor a partir de janeiro de 2012. Em todas as cidades, o descumprimento da regra acarreta multa, que pode ir de R$ 50 a R$ 50 milhões.

Em outras cidades brasileiras, como Curitiba, o item não foi banido legalmente, mas diversas empresas que atuam na região, como o Carrefour e a Kimberly-Clark, aderiram à novidade por conta própria, oferecendo outras opções de sacola.

Para se ter uma ideia, um brasileiro consome em média 792 sacos plásticos por ano. Ao todo, são 150 bilhões, o que equivale a 210 mil toneladas de plástico filme, ou 10% de todo o lixo do país. Mesmo na Europa, onde os países têm um padrão de consumo maior do que o nosso, o seu emprego é menor; lá, a média é de 500 bolsas anuais por habitante.

Além disso, aqui no Brasil, a maioria das sacolas não é reutilizada nem reciclada, contribuindo para a poluição, enchentes e morte por asfixia de animais, que as confundem com alimento (especialmente quando chegam nos corpos hídricos). O plástico das sacolinhas pode também causar intoxicação, já que seus fragmentos microscópicos podem ir parar em nossa comida.

“Não há dúvida nenhuma que nós estamos comendo plástico processado por bactérias, processado pelos peixes, processado por animais que estão em contato com o plástico já fragmentado”, explica Hélio Mattar, especialista do Instituto Akatu pelo Consumo Consciente.

Em comparação com outros países da América Latina, estamos mal. De acordo com um estudo feito em 200 mil residências de 11 países do continente, enquanto 77% dos bolivianos levam bolsas retornáveis, apenas 19% dos brasileiros usam ecobags.

No Brasil, medidas para reduzir a utilização das sacolas plásticas incluem a proibição e a substituição por alternativas similares. Alguns estabelecimentos, por exemplo, adotaram as ecobags de pano, de lona, de papel, de plástico retornável ou de fibra vegetal, embora essa tecnologia ainda seja muito cara. Já outros lugares aderiram às sacolas oxibiodegradáveis, que têm em sua composição aditivos químicos que aceleram a decomposição do material.

No entanto, mesmo esses meios, que parecem agredir menos o meio ambiente, têm suas controvérsias, e podem não ser tão ecológicos assim. Algumas pesquisas realizadas recentemente indicam, por exemplo, que os plásticos biodegradáveis podem ser prejudiciais ao meio ambiente. Segundo alguns estudos, esses itens de fato se despedaçam mais rapidamente, mas os fragmentos resultantes dessa degradação podem durar muito tempo.

“Nossa conclusão é que os plásticos oxidegradáveis não causam nenhum benefício ao meio ambiente”, assegura Noreen Thomas, autora de um dos relatórios. “As opções disponíveis tornam a propriedade ‘degradável’ desses plásticos irrelevante”, conclui o relatório.

“Indicar que uma embalagem é biodegradável quando de fato ela não se degradará em condições naturais pode ser enganoso, e contribui para a proliferação de lixo”, advertiu Potocnik.

Outro relatório que questiona a adoção das ecobags é o Life Cycle Assessment of Supermarket da Agência Britânica do Meio Ambiente, que sugere que o polietileno de alta densidade (PEAD), usado nos sacos plásticos, é menos prejudicial ao meio ambiente do que, por exemplo, as ecobags de papel, já que muitas dessas também são descartadas após poucas utilizações. A solução seria usar as ecobags diversas vezes, para que elas poluam menos que as bolsas plásticas.

Infelizmente, todas as alternativas utilizadas em larga escala têm algum impacto sobre o meio ambiente. Por isso, vale o bom senso na hora de optar pela mais ecológica; o ideal é escolher a que será usada mais vezes, e evitar aceitar qualquer uma delas a menos que seja realmente necessário, recomenda o relatório da agência britânica.

Autor: Jéssica Lipinski - Fonte: Instituto CarbonoBrasil/Agências

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