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quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

O rinoceronte vietnamita está extinto

Em 2009 os caçadores furtivos alvejaram e mataram o último rinoceronte vietnamita (Rhinoceros sondaicus annamiticus), uma subespécie do rinoceronte de Java, confirma um relatório da Fundação Internacional do Rinoceronte (IRF) e do World Wildlife Fund (WWF). O rinoceronte vietnamita era o último rinoceronte de Java a viver no continente asiático e a segunda subespécie a desaparecer, após a extinção do rinoceronte indiano de Java (rhinoceros sondaicus inermis). O rinoceronte de Java é a espécie de rinoceronte em maior risco de extinção, contando apenas com cerca de 50 indíviduos num único parque na ilha Indonésia com a qual partilha o nome.

“O último rinoceronte de Java desapareceu”, disse, num comunicado à imprensa, Tran Thi Minh Hien, o Director do WWF no Vietname. “É penoso perceber que apesar dos investimentos significativos efectuados nos esforços de conservação da população do rinoceronte vietnamita, estes falharam no salvamento deste animal único. O Vietname perdeu uma parte da sua herança natural.”

Entre 2009-2010 os investigadores recolheram 22 amostras de fezes no Parque Nacional de Cat Tien, o último reduto para esta espécie, apenas para descobrir que todas as amostras pertenciam a um único rinoceronte que foi encontrado morto no ano passado, devido a caça furtiva, o que veio fechar o livro sobre o rinoceronte vietnamita de uma vez por todas.

“Dada a boa cobertura da área, observações de campo e o trabalho sobre diversidade genética e bacteriana, podemos confirmar que a população vietnamita a a subespécie do rinoceronte annamiticus de Java está extinta,” lê-se no relatório do WWF sobre a extinção de subespécies.

No passado este animal podia ser encontrado a vaguear em grande parte do Sudoeste Asiático- desde o Vietname, a este, Tailândia, a oeste, e Malásia, no sul- mas após da guerra do Vietname, devido à proliferação de armas, pensou-se que estava extinto. No entanto uma única população foi descoberta em 1988, para subsistir apenas 23 anos.

“A extinção do rinoceronte de Java no Vietname é um grande falhanço de conservação. Quando a subespécie foi redescoberta em 1988, estimava-se que a população contasse com 10-15 indivíduos (embora este número talvez fosse sobre-estimado), e que o habitat adequado ainda existia,” afirma o relatório, adicionando ainda que, “se os rinocerontes e o seu habitat tivessem sido preservados, teria sido possível recuperar a população, tal como foi feito para as espécies Indiana (Rhinocerus unicornis) e Africana, através de um programa de gestão intensivo.”

O relatório culpa os caçadores furtivos pelo desaparecimento do rinoceronte. Estes são mortos de forma ilegal pelos seus cornos, que são posteriormente moídos e incorporados em medicinas tradicionais usadas em toda a Àsia Oriental, especialmente na China e, mais recentemente, no Vietname.

“Esta é uma tragédia indescritível e uma perda terrível, não apenas para a comunidade selvagem, mas para o planeta e gerações vindouras,” disse à mongabay.com Rhishja Larson, fundadora de Saving Rhinos e autora do blog Rhino Horn is NOT Medicine. “Se o tráfico de vida selvagem continuar a proliferar ao ritmo actual, então a extinção do rinoceronte de Java no Vietname é um vislumbre trágico ao futuro de muitas espécies ameaçadas.”

Embora inúmeros estudos cientifícos tenham demonstrado que não existem benefícios médicos no consumo de corno de rinoceronte- composto essencialmente por queratina, o seu valor nutricional é equivalente a consumir unhas e cabelo- a caça furtiva de rinoceronte atingiu recentemente novos valores. Na África do Sul foram mortos, no ano passado, 333 rinocerontes por caçadores furtivos, que foram usados para satisfazer a procura no mercado negro asiático.

Além da caça furtiva, o rinoceronte Vietnamita também sofreu os impactes decorrentes da perda de habitat em grande escala, e da incapacidade do Vietname em proteger os últimos indivíduos, inclusivamente dentro de um dos seus mais famosos parques.

“A população [de rinocerontes] estava restringida a apenas 6,500 hectares do [seu] habitat devido à presença de uma estrada extremamente movimentada que liga as várias povoações dentro do parque.” lê-se num fragmento do relatório.

Nick Cox, administrador do Programa do WWF para as Espécies no Grande Mekong, afirma que para evitar futuras extinções no Vietname, as áreas protegidas nacionais “precisam de mais guardas, melhor treino e monitorização, e mais responsabilização.”

De acordo com o relatório, o consumo de carne selvagem e a medicina tradicional estão a acabar rapidamente com a megafauna das florestas remanescentes do Vietname: “O elefante asiático está reduzido a um número muito pequeno e as suas populações estão isoladas nas zonas central e sul do Vietname e estão em perigo nos locais onde ainda habitam. A população de tigres no Vietname está estimada em menos de 30 indivíduos, um resultado directo da caça para o tráfico de espécies selvagens. Os relatórios afirmam ainda que o gaur está em sério declínio e o banteng está numa situação semelhante, tendo desaparecido de muitos locais onde anteriormente podia ser encontrado.”

Agora que a subsespécie Vietnamita desapareceu, os esforços de conservação focam-se apenas na população de rinoceronte de Java no Parque Nacional de Ujung Kulon, onde uma filmagem recente documentou mães com crias, provando que a população ainda está a reproduzir-se. Não há rinocerontes de Java em cativeiro e os especialistas temem que um desastre natural, especialmente uma erupção vulcânica massiva, possa acabar com a espécie.

Os rinocerontes de Java têm um único corno e pregas na pele semelhantes às do rinoceronte indiano. O rinoceronte vietnamita era distinguido dos seus familiares insulares pelo seu tamanho: era muito mais pequeno que os espécimens de Java.

Por toda a Ásia e África as pressões são as mesmas- destruição de habitats e caça furtiva- e colocaram as cinco espécies de rinoceronte, numa altura ou noutra, em perigo. Três das cinco espécies- o rinoceronte negro, o de Java e o de Sumatra- estão na lista de espécies em Perigo Crítico.

“Há cerca de 48 rinocerontes de Java, talvez menos que 250 de Sumatra e apenas 7 rinocerontes brancos no planeta. Sete! Se os esforços de conservação dos rinocerontes continuarem a ser minados pelo mercado de corno de rinoceronte, então estas populações podem estar à porta da extinção,” explica Larson. No entanto Larson afirma que viu sinais de progresso recentemente. “Os esforços globais para resolver o lado da procura e desacreditar os mitos médicos sobre o corno de rinoceronte estão a aumentar, especialmente durante o ano que passou. Esta vontade de marcar uma posição mostra que há esperança no futuro do rinoceronte.”

Publicado originalmente no Mongabay
http://www.institutocarbonobrasil.org.br/?id=729517

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