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quinta-feira, 1 de março de 2012

Pesquisas afetadas por fogo na Antártica estudavam clima

Ainda é cedo para avaliar com precisão os danos que o incêndio na Estação Antártica Comandante Ferraz provocou para as pesquisas brasileiras na área, segundo os cientistas que trabalhavam no local ouvidos pelo G1. No último sábado (25), o acidente matou dois militares e feriu um. Os sobreviventes tiveram que ser retirados às pressas e levados para Punta Arenas, no Chile.

Segundo os pesquisadores, ainda não se sabe o total das perdas. Uma reunião na próxima semana vai tentar levantar o quadro completo do que foi perdido e do que vai poder ser retomado.

Parte dos computadores da base foi destruída pelo fogo, mas muitos dados podem ser recuperados nos aparelhos pessoais que os cientistas mantinham no local e conseguiram resgatar a tempo.

A maioria das pesquisas, porém, depende de amostras que são coletadas na Antártica e analisadas no Brasil. Alguns cientistas já tinham enviado parte dessas amostras de volta, mas outros não. As que ficaram na base devem ser perdidas, mesmo as que não foram atingidas diretamente pelo fogo – os laboratórios de meteorologia, de química e de estudo da alta atmosfera ficam em outro prédio, mas as amostras são mantidas em temperaturas condicionadas dentro de geladeiras, que vão parar de funcionar devido à falta de energia.

INCT-APA – Dos 30 pesquisadores que estavam na base, 26 estão vinculados ao Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia Antártico de Pesquisas Ambientais (INCT-APA). Todos eles tinham o retorno previsto para o início de março. O projeto reúne especialistas de diversas áreas e instituições de todo o País, com o objetivo de estudar o ambiente antártico.

O INCT-APA possui quatro linhas de pesquisa – chamadas de “áreas temáticas” –, e cada uma dela tem atividades separadas que podem ter sido afetadas pelo incêndio em diferentes graus. Nem todas essas atividades estavam sendo conduzidas no momento do acidente, logo há estudos que poderão ser continuados normalmente.

A área temática mais afetada foi a “Ambiente Marinho”, que tinha 15 pesquisadores no local. O objetivo dessa linha de pesquisa é estudar os efeitos do impacto ambiental – seja natural ou provocado pelo homem – nos organismos marinhos e identificar novas espécies. Isso abrange desde os pequenos seres que formam o plâncton até peixes e mamíferos do mar.

Seis cientistas pertencem à área temática “Ambiente Terrestre”. Essa área pesquisa as alterações sofridas pelas espécies vegetais da região e analisa o comportamento das populações de aves. Esses estudos também dizem respeito às mudanças ambientais do planeta.

Um pesquisador é da área “Gestão Ambiental”, setor que cria e opera projetos para preservação ambiental da própria região antártica.

A área temática “Atmosfera” tem como objetivo monitorar frentes frias, colaborar com a previsão do tempo no Brasil, estudar o efeito estufa na Antártica e alterações químicas da atmosfera, como o buraco da camada de ozônio, como o buraco na camada de ozônio. Quatro pesquisadores desse grupo estavam na estação.

Inpe – A “Atmosfera” é coordenada por Neusa Paes Leme, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). O instituto tinha ainda dois funcionários presentes no local.

Nesta segunda-feira (27), o Inpe divulgou nota oficial sobre suas perdas no incêndio. No texto, informa que seus laboratórios não foram atingidos, mas ainda não estão devidamente protegidos para o inverno. Os pesquisadores avaliam retornar para evitar danos aos aparelhos.

O Inpe tem ainda mais dois projetos no local, realizados em colaboração com outras instituições nacionais e estrangeiras.

Bioincrustação – O projeto “Bioincrustação”, do Instituto Almirante Paulo Moreira, que pertence à Marinha, tinha três pesquisadores no local. Ainda não foi feita uma avaliação dos prejuízos desse projeto.

O objetivo dessa pesquisa é estudar organismos marinhos para obter substâncias anti-incrustantes. Essas substâncias são usadas na tinta de navios e plataformas, pois têm a propriedade de evitar o acúmulo de organismos marinhos nos cascos. Tintas anti-incrustantes são, portanto, menos agressivas ao meio ambiente.

Pinguins e Skuas – O projeto “Pinguins e Skuas” é coordenado por João Paulo Machado Torres, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), que estava na base no momento do acidente. Seu objetivo é estudar o estresse sofrido por pinguins e skuas – a skua é um tipo de ave local – devido aos micropoluentes.

Parte das amostras colhidas nesse verão será levada para o Brasil por um navio da Marinha que está dando apoio aos militares que ficaram na estação. Porém, a maioria dos dados, inclusive os mais recentes, foi perdida.

Criosfera – Outro projeto importante do Brasil na Antártida é o Instituto Nacional de Ciências e Tecnologia da Criosfera. Esse projeto não foi afetado em nada, pois está estabelecido longe da estação, em um módulo que foi posicionado perto do Polo Sul, à latitude de 84 graus sul – a Estação Comandante Ferraz fica a 62 graus.

“O projeto antártico vai além”, afirmou o coordenador Jefferson Simões, professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). “Nem tudo depende de Ferraz”. Segundo ele, é possível fazer pesquisas em navios em caráter emergencial.

Esse projeto coleta informações sobre a mudança do clima e a meteorologia, além de investigar a presença de poluentes do ar na região.

(Fonte: Tadeu Meniconi/ G1)

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