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quarta-feira, 5 de setembro de 2012

Ácaros: tudo o que voce não precisa saber sobre os animais que vivem, literalmente, na sua cara

Os ácaros da pele são um presente da evolução para os humanos. Existem 48.000 espécies conhecidas, das quais 65 são do genus Demodex, e duas delas vivem nos nossos rostos: o D. folliculorum, que tem a traseira arredondada e é maior, e o D. brevis, com traseira pontuda e menor. Essas criaturas com formato de salsicha e oito patas gordinhas coladas na nossa cara são exclusivas dos humanos. Com 1/3 de mm, D. folliculorum é o maior. Foi descoberto em 1841 por dois cientistas, mas descrito só um ano depois por Gustav Simon, um dermatologista alemão. Ainda um ano mais tarde, Richard Owen deu ao bicho seu nome, formado com as palavras demo (grego para “gordura”) e dex (grego para “verme”). Um verme que se arrasta na gordura. Eles são os ectoparasitas mais comuns, encontrados em todas as etnias onde já foram procurados, de europeus a aborígenes australianos a esquimós das ilhas Devon. Mas não é todo mundo que tem o prazer de sua companhia. Eles praticamente estão ausentes em bebês e aparecem com a idade – ou seja, você provavelmente ganhou os seus dos teus pais. Se você tem menos de 20 anos, tem só 4% de chance de ter ácaros. Eles gostam de se esconder em folículos capilares, e são mais comuns em pálpebras, nariz, bochechas, testa e queixo. Mas também já foram encontrados no canal auricular, mamilo, púbis, peito, antebraço, pênis e até nas nádegas. Mas não gostam de pele seca; a gordura parece atraí-los. Por isto, também parecem ser mais comuns no verão, quando a produção de óleo na pele é maior. E o que fazem? Comem. Ainda não se sabe o que comem, mas suspeita-se que seja a gordura, ou as células em torno do folículo. Eles se movimentam quando está escuro, e paralisam no claro. Não são muito rápidos: a distância entre a orelha e o nariz eles percorrem em meio dia. E eles não defecam, pois não tem ânus (pelo menos não tem ninguém “despejando” no seu rosto). Reza a lenda que tal situação cômoda é por que eles evoluíram metidos em buracos com a cabeça para baixo. De qualquer forma, quando morrem, suas fezes são espalhadas (ops, falei cedo demais). Mas fazem sexo. Eles costumam ter encontros românticos na beirada dos folículos capilares. O negócio é um pouco duro para a competição masculina, já que geralmente há cerca de três a cinco vezes mais machos que fêmeas. Mas pelo menos a espécie não se envolve em histórias de horror como a dos aracnídeos – nada de inseminação traumática, canibalismo, etc. Depois do sexo, a fêmea se enterra no folículo (se for um D. folliculorum) ou próximo a uma glândula sebácea (se for um D. brevis). Meio dia depois, ela bota os ovos. Dois dias e meio depois, eles abrem. Os filhotes levam seis dias para chegar à idade adulta, e vivem mais cinco dias. A vida toda deles não dura mais que duas semanas. E nós com isso? Eles são nossos parasitas? Ou são benignos para nós? Aparentemente, eles comem, se arrastam e fazem sexo na nossa cara sem causar dano na maior parte do tempo. Talvez eles nos ajudem comendo bactéria ou outros micróbios nos folículos, mas não há muita evidência sobre isto. Seus ovos, patas com garras, bocas com espinhos e enzimas salivares podem provocar resposta imunológica em nós, mas parece que não é o caso. Eles parecem ser apenas bichos oportunistas, cuja população cresce em pessoas com o sistema imunológico enfraquecido (pacientes de AIDS, crianças com leucemia, ou pacientes tomando drogas imunosupressivas), talvez por causa da mudança na pele. Em cães, o excesso de D. canis pode causar uma doença potencialmente letal chamada sarna dermodécica. Em humanos, a superpopulação de Demodex está ligada a doenças como acne, rosacea, e blefarite (inflamação nas pálpebras). Esta conexão já é conhecida desde 1925. Eles são mais comuns em pessoas com rosacea, que tem em média 12,8 ácaros por cm² de pele, contra 0,7 em pessoas sem rosacea. Mas correlação não significa causa, ou seja, não há provas que eles causem a rosacea. Mas estudos recentes sugerem que a rosacea é causada pelas bactérias nas fezes dos Demodex. O ácaro morre, seu corpo explode, espalhando tudo que ele não fez durante sua curta vida, e as bactérias que estavam dentro dele acabam causando a condição. Por fim, há quem tenha medo de ácaros e “bichinhos que causam coceira”. Isso se chama acarofobia. Tratamento? Qualquer um que envolva alguns dias na praia. Em boa parte das vezes, a pessoa volta curada. Da acarofobia, não dos ácaros. E é isto. Sei que você não queria saber tudo isto. Eu não queria saber tudo isto. E agora estou com uma coceira na bochecha. http://hypescience.com

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