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sexta-feira, 27 de setembro de 2013

possível fortalecer o sistema imunológico: mito ou realidade?

Na maior parte do tempo, nosso sistema imunológico faz um bom trabalho em combater germes causadores de doenças. Algumas vezes, ele falha, e ficamos doentes. E então surge a pergunta: será que dá para fazer alguma coisa para fortalecer o sistema imunológico, uma dieta, vitaminas, suplementos, mudanças de estilo de vida – o que será que poderia deixar o sistema imunológico praticamente perfeito? A ideia é tentadora, mas esbarra em alguns problemas. Um deles é que o sistema imunológico é exatamente um sistema, que depende de muitas variáveis que tem que estar bem afinadas para funcionar corretamente. O resultado é que as tentativas de fortalecer o sistema imunológico fracassaram até hoje. Isso não significa que não chegamos a algumas ideias, e embora não saibamos exatamente como fortalecer o sistema imunológico, alguns cientistas têm explorado os efeito de dietas, exercícios, idade, estresse psicológico, suplementos e outros fatores sobre ele. Os resultados ainda são preliminares, mas interessantes. Aparentemente, um estilo de vida saudável é um bom começo para dar ao sistema imunológico uma vantagem sobre os germes. Adote um estilo de vida saudável Escolher um estilo de vida saudável pode ajudar porque o sistema imunológico é parte do corpo e o corpo funciona melhor quando saudável. Neste caso: Não fume; Adote uma dieta rica em frutas, verduras e grãos integrais, e pouca gordura saturada; Pratique exercícios; Mantenha-se com um peso saudável; Controle a pressão sanguínea; Se você bebe bebidas alcoólicas, faça-o com moderação; Garanta horas de sono apropriadas; Evite infecções: lave as mãos com frequência e cozinhe os alimentos; Visite seu médico regularmente. Cultive o ceticismo Muitos produtos alegam melhorar ou dar um reforço à imunidade, mas isso não faz sentido cientificamente. Por exemplo, aumentar o número de células no corpo, do sistema imunológico ou não, não é necessariamente uma boa coisa. Um exemplo é o “doping de sangue”: alguns atletas injetam sangue para aumentar o número de células sanguíneas e melhorar sua performance, mas isso pode causar um AVC. Reforçar as células do sistema imunológico leva à pergunta: quais células? Existem vários tipos diferentes que respondem a diferentes micróbios de diferentes formas. Tudo o que sabemos é que o corpo produz continuamente células do sistema imunológico – não sabemos quais são melhores. Aliás, o organismo já produz mais linfócitos do que pode usar, por exemplo. As células extras são removidas através do “suicídio celular”, a apoptose, e algumas até mesmo antes de serem usadas. Ninguém sabe qual o número de células que o organismo precisa para funcionar no ponto ótimo. Mas sabemos um pouco sobre a outra ponta da escala — quando o número de células T em um paciente com AIDS fica abaixo de certo nível, o paciente adoece por falta de células que combatam infecções. Sabemos então qual o nível inferior, mas nada sobre o nível máximo e o ideal. Por enquanto, os cientistas estão analisando o efeito de fatores como alimentos e suplementos sobre componentes como os linfócitos ou as citocinas, mas ninguém sabe qual a influência destes níveis sobre a capacidade do corpo de combater as doenças. Outra abordagem é estudar os efeitos de mudanças de estilo de vida sobre a incidência de doenças. Até agora não foi possível mostrar uma ligação direta entre certos estilos de vida e uma resposta imunológica melhorada, mas pelo menos já sabemos que provavelmente ela existe. Idade e imunidade Não sabemos as causas disso, mas o sistema imunológico perde sua eficiência a partir dos 65 anos. Processos infecciosos, inflamatórios e o câncer vão se tornando mais comuns. Uma linha de estudo avalia o funcionamento do timo, responsável pela produção de células T. O timo começa a perder sua função a partir do primeiro ano de vida, e vai decrescendo até chegar aos 65 anos, quando o decréscimo de sua função resulta numa queda na quantidade de células T. Outra pesquisa na mesma linha avalia se a capacidade da medula óssea de produzir células-tronco que irão se tornar células do sistema imune cai com a idade. Outra pesquisa tem estudado a duração dos linfócitos T “de memória”, responsáveis por guardar a memória imunológica. Em ratos, quanto mais velho o animal, menos tempo duram estas células, o que significa que ele pode pegar uma infecção de um organismo que o sistema imunológico já teve contato antes, justamente porque perdeu a “memória” dela. A redução da resposta imunológica de idosos a vacinas parece confirmar estas hipóteses. Finalmente, há uma terceira pesquisa tentando conectar a nutrição com o sistema imunológico em idosos. Por exemplo, uma deficiência em vitaminas e minerais essenciais em idosos, que comem menos ou tem menos variedade na dieta, pode ser responsável por uma queda na proteção do organismo. Não se sabe se suplementos alimentares poderiam ajudar. E as dietas? Sabe-se que pessoas pobres e mal nutridas são mais vulneráveis a doenças infecciosas, mas não está claro se o aumento de doenças é causado por um efeito da má nutrição sobre o sistema imunológico. Há poucos estudos sobre o assunto. Alguns efeitos já foram demonstrados, como o fato que uma deficiência em proteínas causa uma redução nos números e funções das células T e macrófagos, além da redução da produção de imunoglobulina A (IgA), um anticorpo. Da mesma forma, a deficiência de vários micronutrientes, como zinco, selênio, ferro, cobre, ácido fólico e Vitaminas A, B6, C e E, por exemplo, altera a resposta imunológica em animais, mas o impacto destas alterações sobre a saúde não é claro. A sugestão dos cientistas é garantir a ingestão diária destes micronutrientes, especialmente Selênio, cuja deficiência está associada a vários cânceres; Vitamina A, cuja deficiência está associada a um risco aumentado de doenças infeciosas; Vitamina B2, que parece aumentar a resistência a infecções bacterianas em ratos; Vitamina B6, cuja deficiência pode diminuir a capacidade dos linfócitos de amadurecerem e se tornarem vários tipos de células T e B. Mas cuidado que a megadose pode promover o crescimento de tumores; Vitamina C, cujo papel ainda não está claro, mas parece trabalhar junto com outros micronutrientes; Vitamina D, que sinaliza uma resposta antimicrobiana à bactéria responsável pela tuberculose, a Mycobacterium tuberculosis; Vitamina E, cuja administração aumentada de 30 mg para 200 mg diários em indivíduos com mais de 65 anos melhorou a resposta das vacinas contra a hepatite B e o tétano, e Zinco, que é essencial ao sistema imunológico — sua deficiência afeta a capacidade das células T e outras de funcionarem corretamente. Mas cuidado: excesso de zinco também pode inibir o funcionamento do sistema imunológico. Desconfie de suplementos Existem muitos produtos que prometem “aumentar a imunidade”, mas não há evidências de que funcionem. Mesmo que seja possível comprovar que alguma planta esteja aumentando os níveis de anticorpos, não significa que esteja beneficiando a imunidade como um todo. O sistema imunológico de cada pessoa é único, e responde de maneira diferente a esses produtos. Ou seja, pode ser que realmente aquele chazinho que sua tia tome esteja a protegendo de doenças, mas esse efeito benéfico certamente não será geral, ou seja, não será visto em toda a população. A maior parte da pesquisa neste sentido tem sido feita em crianças, idosos e pessoas com o sistema imunológico comprometido, como pacientes com Aids. Entre os estudos feitos, existem os que precisam de uma comprovação por terceiros (alguém mais precisa repetir o estudo e ver se obtém os mesmos resultados). Considere então as descobertas nesta área como controversas e possivelmente com erros. Os compostos que já foram estudados são: Aloe vera. Não há evidência que ele possa modular a resposta imune, mas é auxiliar no tratamento de queimaduras leves, ferimentos e queimaduras de frio, e, quando combinado com hidrocortisona, em inflamações da pele. Também é a melhor opção para tratar o tecido da mama depois de uma terapia de radiação. Astragalus membranes. O derivado da raiz é comercializado como estimulante do sistema imunológico, mas as qualidades encontradas são fracas, e ele pode ser perigoso. Echinacea. Há muita controvérsia sobre esta planta, e muitos especialistas não recomendam tomá-la para prevenir gripes. Também possui sérios efeitos colaterais — já foram relatados choques anafiláticos. Alho. Ele parece ter algumas propriedades de combate à infecções, mas não há estudo que comprove seus benefícios para o ser humano. Pode baixar o risco de alguns tipos de câncer, mas é cedo para recomendá-lo em tratamentos. Gingseng. Existem muitas alegações sobre supostos benefícios da raiz do gingseng, mas os poucos estudos existentes até agora são considerados insuficientes para dar suporte a elas. Glycyrrhiza glabra (raiz de alcaçuz). É usada na medicina chinesa para uma variedade de doenças, mas sempre em combinação com outras ervas, ou seja, não se sabe se os efeitos são do alcaçuz mesmo. Além disso, tem efeitos colaterais potenciais que tornam aconselhável evitá-la. Probióticos. Estudos recentes apontam uma relação entre as bactérias “boas” e o sistema imunológico. Por exemplo, certas bactérias do intestino podem influenciam a correção de deficiências e aumentar o número de certas células T, embora não se saiba como elas fazem isso. É tentador fazer a relação de que ter mais das bactérias “boas” seja bom, mas não há evidências que apoiem isso. Conexão com o estresse Existem muitas doenças ligadas ao estresse emocional, e embora existam estudos do relacionamento entre o estresse e a função imunológica, esta não é uma área de pesquisa importante para a maioria dos imunologistas. Um dos problemas é a dificuldade de definir o que é estresse — diferentes pessoas reagem de forma diferente para a mesma situação e, quando a reação é o estresse, em diferentes graus. Também existe o estresse crônico, que não acontece repentinamente, mas ao longo de um período, como o causado por problemas familiares, relações no trabalho, etc. Some-se a isto o fato de que é difícil fazer “experimentos controlados” com pessoas, já que as variáveis são muitas, e a relação entre elas é muito complexa. Mas mesmo com todas estas dificuldades, alguns experimentos dão resultados consistentes, permitindo traçar algumas conclusões que se espera sejam razoáveis. Entre os experimentos e as conclusões, podemos contar com o seguinte: Situações estressantes atrasam a produção de anticorpos em ratos infectados com o vírus influenza e suprimem a atividade de células T em animais inoculados com o vírus da herpes simplex. O estresse social pode ser pior que o estresse físico: ratos sujeitos a estresse social (ficar em uma gaiola com ratos agressivos, sendo ameaçados, mas não feridos) tem o dobro de chances de morrer quando expostos a toxinas bacterianas em relação a ratos que sofreram estresse físico (ficaram sem água e comida por longos períodos). O isolamento também pode suprimir a função imunológica. Macacos separados de suas mães produziram menos linfócitos em resposta a antígenos e menos anticorpos em resposta a vírus. Situações estressantes também atrapalham a comunicação química entre os sistemas nervoso, endócrino (hormonal) e imunológico: Pessoas idosas cuidando de parentes com Alzheimer têm níveis mais altos de cortisol, e talvez por causa disso, a vacina da gripe produza menos anticorpos neles. Algumas medidas da atividade de células T são mais baixas em pacientes com depressão, e entre homens separados ou divorciados em comparação com homens casados. Pessoas que cuidam de marido ou esposa com Alzheimer e que tem menos amigos e ajuda externa têm mudanças maiores na função das células T. Pessoas de áreas que sofreram danos com desastres naturais, como o Furacão Andrew na Flórida, apresentaram uma atividade reduzida em várias medidas do sistema imunológico. Vale lembrar que estes estudos não apontam se as mudanças no sistema imunológico tenham efeitos adversos claros na saúde das pessoas. O frio adoece? Toda mãe já disse “vista um casaco ou você vai apanhar um resfriado!”. Mas os cientistas que estudam esta questão acreditam que a exposição ao frio moderado não aumenta a suscetibilidade a infecção. A conexão entre o frio e a gripe sazonal provavelmente tenha mais a ver com as pessoas passarem mais tempo em ambientes fechados do que com a temperatura. Por exemplos, infecções no trato respiratório superior são mais comuns em esquiadores de cross contry que fazem exercícios vigorosos no frio, embora a causa das infecções — ar seco ou exercício intenso, ou outra coisa — seja desconhecida. O frio também aumenta o nível de citocinas, mas qual a consequência disso? Você deve se agasalhar quando está frio? A resposta é sim. Se você está desconfortável, ou vai ficar longos períodos do lado de fora, então a hipotermia e queimaduras de frio são um risco real, mas não se preocupe com seu sistema imunológico. original Exercícios são bons ou ruins para a imunidade? Exercícios são importantes para a saúde: melhoram a saúde cardiovascular, baixam a pressão sanguínea, ajudam a controlar o peso e protegem contra várias doenças, mas será que ajudam a manter o sistema imunológico saudável? Não foi estabelecido se há uma ligação direta benéfica entre exercícios e o sistema imunológico, mas é razoável crer que exercícios regulares ajudam a ter mais saúde e isto pode favorecer o sistema imunológico, junto com o resto do corpo. CONCLUSÃO: Em resumo, não existe nada que a ciência possa afirmar que acelera as defesas do seu organismo. Mas comer bem, fazer exercício, dormir bem, se agasalhar e não se estressar é um bom começo.[Harvard Health Publications]

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