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quinta-feira, 29 de maio de 2014

Brasil poderá ter centro de pesquisa de "ciência aberta"

A criação de um centro de pesquisa básica no Brasil, em um modelo ciência aberta (sem direitos de propriedade intelectual), voltado à produção de conhecimentos relevantes para a descoberta de novos fármacos e para o avanço da agricultura foi debatida em um evento realizado na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). A proposta foi apresentada a pesquisadores, estudantes e agências de fomento brasileiras por representantes do Structural Genomics Consortium (SGC), uma parceria público-privada que reúne cientistas, indústrias farmacêuticas e entidades sem fins lucrativos de apoio à pesquisa. "O SGC tem hoje sede na Universidade de Toronto (Canadá) e na Universidade de Oxford (Reino Unido). Nosso sonho é criar um terceiro centro na Unicamp e expandir nosso campo de pesquisa - hoje focado em biomedicina - para a ciência de plantas", disse Aled Edwards, fundador e presidente do grupo. Epigenética O consórcio foi criado em 1999 com o objetivo de promover pesquisa básica em áreas consideradas de alto risco, como epigenética, para as quais seria difícil obter financiamento pelos métodos tradicionais. "Na época, todas as empresas farmacêuticas estavam fazendo exatamente as mesmas pesquisas sobre proteínas e, então, pensamos: por que não unir os investimentos em uma única empreitada e compartilhar os resultados? Concordamos que nada seria patenteado e todos os dados seriam de acesso público. A propriedade intelectual não é algo ruim, mas quando você declara uma zona livre de patentes o conhecimento flui", disse Edwards. Nos últimos anos, pesquisadores ligados ao SGC descreveram a estrutura de mais de 1.200 proteínas, com implicações para o desenvolvimento de terapias contra câncer, diabetes, obesidade e transtornos psiquiátricos. Estima-se que o custo das pesquisas necessárias para desvendar cada uma das proteínas seja de aproximadamente US$ 1 milhão. Sondas químicas "Decidimos então usar esse conhecimento para desenhar compostos sintéticos - as chamadas sondas químicas - que funcionam como inibidores de enzimas. São moléculas capazes de se ligar de forma bastante seletiva a proteínas sinalizadoras, como as quinases, que controlam importantes funções, tanto no organismo humano como nos animais e nas plantas", explicou Edwards. As sondas químicas são ferramentas de pesquisa usadas para desvendar o papel biológico das quinases e os mecanismos de sinalização celular. Mais de 500 quinases diferentes foram identificadas no genoma humano, mas apenas cerca de 40 foram bem estudadas. "Essas sondas químicas são caras e difíceis de criar. Apenas as grandes indústrias farmacêuticas têm a estrutura necessária. Se tratarmos essas ferramentas como produtos comerciais, a academia não terá acesso a elas e não conseguiremos desvendar os mistérios da biologia. Por outro lado, se as fornecermos aos acadêmicos gratuitamente, isso beneficiará a indústria no longo prazo", disse Edwards. "Tudo que pedimos em troca é que o conhecimento gerado com o uso dos nossos inibidores seja de acesso público. A ideia é que mais cientistas façam experimentos para avançar o conhecimento sobre biologia básica. Isso nos ajudará a tomar melhores decisões em relação a quais alvos investir nos projetos de desenvolvimento de fármacos e a otimizar recursos", disse David Drewry, diretor de Biologia Química da GSK e um dos palestrantes do evento. Agência Fapesp

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