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quinta-feira, 19 de junho de 2014

Nós temos o poder de proteger o oceano

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Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), cerca de 70% da população brasileira vive na faixa situada a até 200 km do litoral. Os municípios da zona costeira abrigam 26,9% da população brasileira, ou 50,7 milhões de pessoas. Dessas, cerca de 4 milhões utilizam seus recursos naturais para sobreviver. Dados do Ministério da Pesca apontam a existência de quase 1 milhão de pescadores no país, responsáveis pela oferta anual de 1,24 milhão de toneladas de pescados que abastecem as casas de milhões de brasileiros. O que pouca gente sabe é que, apesar dessa abundância, muitas espécies no Brasil estão ameaçadas de extinção e outras precisam obedecer, na comercialização, um período de defeso, que é quando a pesca da espécie é proibida para garantir sua reprodução. Para verificar quais espécies de pescado – entre peixes, moluscos e crustáceos – são mais encontradas na cidade de São Paulo (maior centro consumidor de pescados do país), a Fundação SOS Mata Atlântica fez, no ano passado, um levantamento em feiras livres, peixarias e supermercados da cidade para observar se as espécies estavam identificadas de forma correta e se as normas existentes, como o defeso e a proibição de captura, eram conhecidas e estavam sendo respeitadas. Considerando todos os locais pesquisados, a grande maioria de peixes encontrada no levantamento foi de água salgada (80,6%), com o salmão e a sardinha presentes em 92,2% dos estabelecimentos. Infelizmente, poucos sabem que a sardinha (Sardinella brasiliensis) encontra-se na lista dos ameaçados de extinção e que, devido sua alta procura pelo mercado consumidor, a pesca desse animal continua intensa, levando os estoques de sardinha à iminência de colapso. Nas feiras-livres, em um total de 52 espécies diferentes, a sardinha esteve presente em 100% das barracas, o cação em 97% e o salmão, importado das águas frias chilenas, esteve presente na maioria das feiras (87,5% das barracas). Já nos mercados e peixarias, das 68 espécies, o salmão esteve presente em 97% dos estabelecimentos. O salmão, tão apreciado na culinária japonesa e mais consumido nos últimos anos, vem de fazendas de cultivo do Chile e é exportado diretamente aos mercados brasileiros. Com ele recebemos um produto com alta pegada ecológica, devido seu transporte ser carregado de emissões de gás carbônico. Além disso, o que poucas pessoas sabem é que esse salmão tem pouco ômega 3, pois somente o salmão selvagem, livre, e não de cultivo em fazendas, possui essa gordura tão procurada. Peixes de água doce e os camarões-cinza foram citados como provenientes de fazendas de carcinicultura. Esta é uma prática que necessita de grandes extensões de terra próximas a uma fonte de água salobra. Assim, grandes áreas de manguezais são destruídas para a instalação e construção de tanques para essas criações. Em todos os pontos de comercialização a constação é que, além da origem do pescado ser difícil de ser determinada, há problemas sérios com a identificação do produto. Muitos consumidores não sabem, por exemplo, que o cação na verdade é um tubarão. Vendidos em filé ou postas, fica ainda mais difícil identificá-los. Das 88 espécies de tubarões brasileiros, 12 estão na lista das ameaçadas de extinção. Para este ano, a Fundação está preparando uma nova versão desse levantamento, incluindo a cidade do Rio de Janeiro, e desenvolvendo material informativo para comerciantes e consumidores, com um resumo sobre períodos de defeso e sobre os tamanhos mínimos de captura, visando facilitar a adoção de boas práticas na venda e compra de pescado. Compartilhar essas informações, além de auxiliar na conservação das espécies, evitará o comércio indevido e ilegal. Precisamos saber a origem do que estamos consumindo. Portanto, na próxima vez que você for escolher um pescado que vem do mar, informe-se. É também a sua saúde que está em jogo. Como bem lembrou a ONU nesse último domingo, “juntos nós temos o poder de proteger o oceano”. *Diretora-executiva da Fundação SOS Mata Atlântica. Artigo originalmente publicado no Blog do Planeta. Fonte: SOS Mata Atlântica

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