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sábado, 24 de janeiro de 2015

mais da metade das cidades pode ficar sem água em 2015

Dono do maior potencial hídrico do planeta, o Brasil corre o risco de chegar a 2015 com problemas de abastecimento de água em mais da metade dos municípios. O diagnóstico está no Atlas Brasil - Abastecimento Urbano de Água, lançado ontem pela Agência Nacional de Águas (ANA). O levantamento mapeou as tendências de demanda e oferta de água nos 5.565 municípios brasileiros e estimou em R$ 22 bilhões o total de investimentos necessários para evitar a escassez. O dinheiro deverá financiar um conjunto de obras para o aproveitamento de novos mananciais e para adequações no sistema de produção de água. Considerando a disponibilidade hídrica e as condições de infraestrutura dos sistemas de produção e distribuição, os dados revelam que, em 2015, 55% dos municípios brasileiros poderão ter déficit no abastecimento de água, entre eles grandes cidades como São Paulo, Rio de Janeiro, Salvador, Belo Horizonte, Porto Alegre e o Distrito Federal. O percentual representa 71% da população urbana do país, 125 milhões de pessoas, já considerado o aumento demográfico. "A maior parte dos problemas de abastecimento urbano do país está relacionada com a capacidade dos sistemas de produção, impondo alternativas técnicas para a ampliação das unidades de captação, adução e tratamento", aponta o relatório. O diretor-presidente da ANA, Vicente Andreu, disse que o atlas foi elaborado para orientar o planejamento da gestão de águas no país. Segundo ele, como atualmente mais de 90% dos domicílios brasileiros têm acesso à rede de abastecimento de água, a escassez parece uma ameaça distante, como se não fosse possível haver problemas no futuro. "Existe uma cultura da abundância de água que não é verdadeira, porque a distribuição é absolutamente desigual. O atlas mostra que é preciso se antecipar a uma situação para evitar que o quadro apresentado venha a ser consolidado", avalia. A maior parcela dos investimentos deverá ser direcionada para capitais, grandes regiões metropolitanas e para o semiárido nordestino. "Em função do maior número de aglomerados urbanos e da existência da região do semiárido, que demandam grandes esforços para a garantia hídrica do abastecimento de água, o Rio de Janeiro, São Paulo, a Bahia e Pernambuco reúnem 51% dos investimentos, concentrados em 730 cidades", detalha o atlas. Além do dinheiro para a captação de água, o levantamento também aponta necessidade de investimentos significativos em coleta e tratamento de esgotos. O volume de recursos não seria suficiente para universalizar os serviços de saneamento no país, mas poderia reduzir a poluição de águas que são utilizadas como fonte de captação para abastecimento urbano. FOTO: Sang Tan/ap Vegetarianas. As modelos da Playboy Victoria Eisermann (esq) e Monica Harris posam para campanha pelo uso consciente da água na Trafalgar Square, em LondresSang Tan/ap Vegetarianas. As modelos da Playboy Victoria Eisermann (esq) e Monica Harris posam para campanha pelo uso consciente da água na Trafalgar Square, em Londres Estudo Demanda na península árabe excede 500% Londres, Reino Unido. Estudo da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação (FAO) identificou os países nos quais a demanda por água excede a oferta natural do recurso. No topo da lista dos que mais utilizam o recurso está a península árabe, onde a demanda por água doce excede em 500% a disponibilidade na região. Isso significa custos adicionais para que a água seja trazida de fora - por caminhões-pipa ou aquedutos, ou através da dessalinização. Países como o Paquistão, o Uzbequistão e o Tadjiquistão também estão muito próximos de utilizar 100% de sua oferta de água doce, assim como o Irã, que usa 70% de seus recursos hídricos. De acordo com a FAO, o norte da África é outra área sob pressão. A região possui somente metade da água doce que os países consomem. Mas a maior pressão sobre as fontes de água doce não está necessariamente nos lugares mais secos, mas nas regiões com o maior percentual da população global. O sul da Ásia consome quase 57% de sua água doce, mas abriga quase um terço da população mundial. No leste da Ásia, os países usam em média apenas 20% das suas reservas hídricas. No entanto, um terço da população do mundo vive ali. Futuro da indústria A água deverá ser, no futuro, fator determinante para a localização das empresas, avalia o professor Raul Govêa, da Universidade do Novo México (EUA). Segundo ele, atualmente, a maior parte do parque industrial está localizada no Sudeste, que sofre um "forte estresse hídrico". A região concentra 43% da população brasileira, mas apenas 6% da água doce disponível no país. Sem contaminação O Departamento de Engenharia Florestal da Universidade de Brasília (UnB) criou uma fórmula matemática que permite aos produtores rurais reduzirem em até 42,7% os riscos de contaminação da água por causa do uso de pesticidas. A aplicação da equação é útil, por exemplo, para a avaliar o perigo de contaminação do lençol freático que irriga as bacias de abastecimento das cidades. Água perdida O cientista holandês Arjen Hoekstra criou a Pegada Hídrica, indicador que mede o uso direto e indireto da água doce para se obter um produto alimentício ou bem consumível. Para comer uma maçã, em média, foram gastos 70 l de água. Em um copo (250 ml) de cerveja, 75 l. Em uma xícara de café, 140 l e em 1 kg de carne, 15,5 mil litros de água. Uma camisa de algodão exige 2.700 l de água. Jornal O Tempo

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