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sexta-feira, 29 de maio de 2015

Que El Niño é este?

O centro americano de previsão climática, ligado à NOAA (Administração Nacional Oceânica e Atmosférica) tem apontado, desde aproximadamente outubro do ano passado, que a água do Oceano Pacífico em sua porção equatorial central está mais quente que o normal com desvios em torno de 0,5°C. Nesta situação, normalmente afirmamos que um El Niño está em curso, pelo menos no oceano. O centro americano de previsão climática, ligado à NOAA (Administração Nacional Oceânica e Atmosférica) tem apontado, desde aproximadamente outubro do ano passado, que a água do Oceano Pacífico em sua porção equatorial central está mais quente que o normal com desvios em torno de 0,5°C. Nesta situação, normalmente afirmamos que um El Niño está em curso, pelo menos no oceano. El Niño: água do Oceano Pacífico está mais quente que o normal nos últimos meses / Fonte: Somar Meteorologia A atmosfera ainda não responde ao fenômeno, pelo menos no Brasil. Em anos de El Niño, sabe-se que a chuva ganha intensidade e frequência no Sul, gerando inundações, deslizamentos e grandes prejuízos às cidades e ao campo. Entretanto, desde fevereiro, o sul do Rio Grande do Sul vem passando por uma seca severa, algo que obrigou 15 municípios a decretar estado de emergência. Deveria ter chovido pelo menos 350mm nos últimos meses, mas em muitos municípios, a precipitação pluviométrica não chegou aos 100mm. É claro que acontecem temporais, como o que atingiu o sul de Santa Catarina neste início de semana, mas eles são esporádicos e não podem ser associados com o aquecimento do Pacífico equatorial. Por enquanto, o chamado padrão intrasazonal está sobrepondo o aquecimento do oceano. Neste outono, a corrente de jato subtropical – que é um vento intenso em altitude, esteve mais ao norte que o normal, ancorou as frentes frias e fez com que o período úmido se prolongasse no Sudeste, Centro-Oeste e interior do Nordeste. Além disso, sem a chegada de ondas de frio intensas, os sistemas meteorológicos tropicais típicos do verão, como alta da Bolívia e vórtices ciclônicos do Nordeste, foram observados até o fim de abril e também contribuíram para o prolongamento do período úmido. Este padrão continuará nos próximos meses? Não. Independentemente do aquecimento do Pacífico, a corrente de jato deverá migrar mais para o sul e se intensificar nas próximas semanas, ajudando a ancorar os sistemas meteorológicos por mais tempo sobre o Rio Grande do Sul, Santa Catarina e oeste e sul do Paraná. É claro que o aquecimento do Pacífico em curso poderá evidenciar ainda mais o padrão úmido que a região Sul passa no meio do ano. Já no Sudeste e Centro-Oeste, a chuva não para completamente, mas fica mais espaçada. Qual é a duração deste novo padrão? Atualmente, a água do Pacífico equatorial também está bastante quente em profundidade, situação semelhante à registrada no ano passado. Naquela época, chegou-se a cogitar que este fenômeno seria tão intenso quanto o de 1997, algo que não se confirmou. As previsões mostram que estas águas quentes em profundidade deverão aflorar nos próximos meses, gerando desvios mais intensos que o atual 0,5°C. Entretanto, a própria NOAA alerta que as simulações têm exagerado neste aquecimento nos últimos anos provavelmente pela atual fase negativa da Oscilação Interdecadal do Pacífico. Além disso, essas mesmas previsões mostram que apesar do Pacífico equatorial central permanecer quente nos próximos meses, as áreas a leste e a oeste deverão esfriar no decorrer do segundo semestre de 2015. Nesta situação, o efeito do fenômeno El Niño até poderá aparecer na atmosfera no próximo inverno brasileiro, mas fica a dúvida do tempo que ele vai durar. Talvez, acabe bem mais cedo que o imaginado e já não seja perceptível no decorrer da primavera e no próximo verão, que é o período das águas na maior parte do país. Celso Oliveira é meteorologista e mestre em agronomia pela Universidade de São Paulo (USP), e desde 2001 é colaborador da Somar Meteorologia.

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